VIVA! ESTAMOS VIVOS!
por Fabiana Agra*
Quem é meu amigo já sabe, de-cor-e-salteado: depois das viagens, o que me dá mais prazer nesta vida, é a história. Sim, a história, aquela que Hobsbawn soube interpretar como poucos, que Eco decodificou como ninguém e que Saramago, num relance moleque, passou por cima de todos os intelectos e bagunçou vossas cabeças em seu ensaio da cegueira. É a nossa história que me move a prosseguir, a pesquisar, a tentar entender – a querer ser melhor, portanto. Melhor não no sentido religioso-transcendental, mas no sentido moral mesmo, porque sair do caminho trilhado por estes grandes contemporâneos meus seria negar toda a minha essência, seria jogar no lixo toda a ideologia que eu persegui ao longo da minha já “pela-metade” vida. Mas, deixando a quintessência de lado, da parte da história que mais me interesso é do seu lado mais obscuro, mais denso e mais traiçoeiro: sim, companheiros! É claro que falo da política. Sim, é da política que vou falar aqui; sim, por óbvio que vou falar da atual conjuntura que vivemos no Brasil desse surreal abril de 2016.
Mas meus amigos, alguém que não recordo agora, já dizia dias atrás, que o Brasil não é mesmo para principiantes – e ele (ou ela) está coberto(a) de razão! Aqui, não vou nem relatar os acontecimentos das últimas semanas por desnecessário, mas posso falar sobre eles com tranqüilidade porque faço parte, pertenço, sou protagonista desta história vivida no agora, no instante, onde o que hoje pela manhã foi novidade, daqui a poucos minutos já caducará. Faço parte do momento onde dois lados se digladiam pelo poder e quero estar do lado certo para o bem da maioria, mas sem saber de que lado a maioria ficará no momento crucial… Talvez se alguém no futuro ler esse texto ficará sem entender todas essas ilações, mas é que a coisa por aqui está confusa, está fosca, está foda mesmo.
Tem gente misturando alho com bugalhos, tem gente confundindo aquele do Maquiavel com o cara do Exupêry, tem gente de todas as tribos, tem gente da massa – e a massa agora tem outra denominação, pois bem – tem gente dazelite, tem filho-de-pedreiro-que-é-doutor, tem gente do amarelo, tem gente do vermelho, e a gente vai caminhando, caminhando, andando, e marchando, toda semana em um lugar diferente, para ver onde o Brasil irá desembocar ao final desse redemoinho de estupidezes, de quinquilharias e de ambições desenfreadas. Às vezes penso estar presa num pastelão mexicano, daqueles onde os protagonistas Marcos Eduardo e Carla Antonia giram em torno de personagens nem tão grandes assim, para no final todos terminarem olhando o… pôr-do-sol de uma praia paradisíaca do Caribe. Porra véi, é fogo, é sério o negócio! Né brinquedo não, e aqui to falando a linguagem das ruas, das mesmas ruas aonde caminhamos a cada tentativa de golpe em nossa já frágil democracia.
Eu poderia, aqui, citar tantos bons e velhos e novos intelectuais que estão do nosso lado – mas seria repetitivo para os de agora. Apenas acrescento uma coisa: de tudo isso que agora acontece, antevejo o seguinte: quando toda essa loucura terminar, o país estará ferrado e mal pago, serão necessários vários anos para recuperarmos a nossa imagem perante o resto do planeta e tudo o que de ruim advém de uma situação assim. Mas pera: nem tudo é catástrofe: de agora, já vejo coisas boas surgindo em meio ao caos e por causa mesmo do caos: a nossa cultura, que andava adormecida, preguiçosa, ridicularmente compactuando com as mesmices globais, deu uma de despertar, de mandar recado, de dar a cara à tapa. É! Tô vendo isso e vejo que isso é bom!
O que tem de gente boa que andava esquecida saindo das tumbas e dos recantos e mandando seus recados, não cabe em nenhum jornaleco golpista. O que tem de música, poesia e boas produções surgindo por causa dessa crise, nós veremos só daqui uns meses. E sabe, isso não tem preço! As minhas últimas boas referências eram caras que viveram e ficaram lá no século passado, era Cazuza, era Renato Russo, era o Caio F. Abreu, era tanta gente que já estavam sendo revisitada mas que não conhecíamos o resultado das releituras de suas obras. Mas agora tudo mudou – até uma nova musa temos, e a musa não é adolescente não, é uma coroa bem enxuta, a Sabatella, a musa da democracia que teima em lutar para sobreviver. E temos o arauto do nonsense, o já velhinho Bemvindo Sequeira que manda ver em suas postagens nas redes sociais; e temos o grande, o imenso PHA, esse cara ainda vai ter seu papel reconhecido pelo que faz agora pelo Brasil. Ah, é tanta gente boa saindo dos armários e gavetas e bares e janelas e portas e becos…
Enquanto isso, eu continuo aqui, de frente para o monitor, tentando fazer parte, querendo pertencer.
Viva o Brasil. Viva a democracia. Viva a vida!
Viva! Estou viva!
Picuí do Seridó, 06 de abril de 2016
* Fabiana Agra é advogada e jornalista