A sétima etapa do Encontro de Sanfoneiros e Tocadores de Oito Baixos ocorreu na última sexta-feira (28), em São Vicente do Seridó (PB). Mesmo não tendo Campus da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), a cidade foi uma das que externou seu desejo de participar do evento, realizado pela Pró-Reitoria de Cultura (Procult) da Instituição.
A iniciativa ocorreu por todo o dia, no Plenário Vereador João Meira de Vasconcelos, na Câmara de Vereadores – Casa Severino Marreiro, e contou com a presença da prefeita da cidade, Maria Graciete do Nascimento Dantas, do vice-prefeito Airton de Morais, do secretário de Cultura Adriano Pereira, do vereador Gilberto de Zuzú, representando os vereadores do município, e do pró-reitor de Cultura, José Cristóvão de Andrade. Presentes também estavam o coordenador local do evento, João de Deus, a curadora da sessão de Cordel do Museu de Arte Popular da Paraíba (MAPP), Joseilda de Sousa Diniz, o promotor de eventos da Procult, Alberto Alves, o cartunista Fred Ozanan, o professor do Centro Artístico Cultural (CAC) da UEPB, Luizinho Calixto, o músico João Calixto e o diretor do Grupo de Tradições Populares Acauã da Serra, Agnaldo Barbosa.
A oportunidade recebeu uma grande participação tanto dos sanfoneiros e tocadores de oito baixos, quanto da comunidade de São Vicente, que compareceu em grande número, lotando a Câmara de Vereadores, que necessitou de mais cadeiras para o público. Um dos diferenciais desse Encontro, em relação aos demais já ocorridos, é que a maioria dos inscritos tinha como instrumento principal o fole de oito baixos, considerado mais raro, pois escasseiam professores na área e instrumentistas.
O Encontro iniciou logo na entrada do prédio, com a apresentação dos emboladores de coco, Fredi Guimarães e
Canário do Império, sendo que a abertura oficial se deu no Plenário, com a execução, na sanfona, do Hino Nacional, efetivado pelo professor do CAC, Erivelton da Cunha.
A prefeita começou sua fala destacando a alegria por ver todos engajados em um evento que tem como cerne a cultura popular, o que para ela é uma “paixão pessoal”. “Sou uma amante das manifestações artísticas que nascem do talento da nossa gente. Nós, nordestinos, somos fortes, apesar de todas as dificuldades, e não nos deixamos entristecer, nem poderíamos, pois temos toda essa riqueza que vem do nosso povo. Estamos profundamente felizes por fazer parte dessa ação, por estarmos colaborando de modo efetivo para que essa arte tão especial, tão nossa, seja transmitida e divulgada”, afirmou.
Concordando com Maria Graciete do Nascimento Dantas, o vice-prefeito acrescentou que o Encontro é uma “iniciativa magnífica, um condutor de estímulo para que a cultura popular não seja esquecida”. “É um incentivo muito necessário, temos muitos sanfoneiros em São Vicente do Seridó e é uma honra prestigiá-los”, disse Airton de Morais. Para o secretário de Cultura, o evento é uma ferramenta poderosa de difusão, tendo em vista que a mídia nacional, em sua maioria, não colabora para o enaltecimento da música genuína e dos emissários dela. “Nossa satisfação é imensurável por estarmos alinhados, comprometidos com o Encontro e com o que ele propõe”, ressaltou Adriano Pereira.
O pró-reitor de Cultura agradeceu a calorosa acolhida dada pela Prefeitura de São Vicente do Seridó e começou sua fala pedindo um voto de aplauso à mobilização dos trabalhadores em todo o Brasil, com a greve geral efetuada naquele dia. “Como o Brasil, a UEPB também passa por um momento adverso. A greve é essencial, é o oxigênio para que ela, e também o país, continue funcionando. Nossa luta é por um Brasil livre, soberano e que respeite e engrandeça a voz da cultura popular”, endossou José Cristóvão de Andrade.
São Vicente do Seridó, o berço da sanfona de Oito Baixos
“Precisei me ausentar por uma ocasião a qual não poderia deixar de comparecer, mas o Encontro para mim é sagrado. Fiquei muito comovido pela Prefeitura de São Vicente do Seridó ter abraçado os sanfoneiros junto com a UEPB, com toda a admiração e deferência que eles merecem”, detalhou.
Por todo o dia, durante o Encontro, foi delineado um projeto de parceria entre a Universidade e a Prefeitura para que o município de São Vicente do Seridó seja o “berço da sanfona de oito baixos”, como pontuou o pró-reitor de Cultura, José Cristóvão de Andrade. A ideia é que a cidade receba um curso de sanfona e de fole de oito baixos, por meio da UEPB, e prossiga desenvolvendo eventos semelhantes, sempre com essa tônica de reunir os músicos e estimular a produção musical deles.
Também foi reafirmado na sétima etapa, o plano da UEPB de fazer um “Atlas dos Sanfoneiros do Estado da Paraíba”, através da Procult e da Editora da Instituição. O projeto intenta a publicação de um livro que disponha de dados diversos, desde a data de nascimento e a época em que começaram a tocar, até telefones de contato e local de origem, além de fotos, para que a obra funcione como um registro de cada um deles.
O Encontro foi encerrado no começo da noite, com a entrega dos certificados aos participantes e a execução da música “Asa Branca”, composta por Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira. O espetáculo final contou com um grande número de sanfoneiros no palco do Plenário Vereador João Meira de Vasconcelos. A Procult agradece ao coordenador local, João de Deus, e ao excepcional apoio concedido pela Prefeitura de São Vicente do Seridó, que deu todo suporte logístico necessário para que a realização do evento fosse efetuada com excelência.
Um ícone e um jovem talento
Ademar Correia, como é conhecido na cidade, também é poeta e tem composições próprias. “Continuo trabalhando no campo, mas gosto mesmo é de me apresentar e de escrever, inventar meus versos. Antes, a gente tinha muita festa na roça, eram festas simples, mas muito alegres, isso mudou bastante, hoje quase não tem mais. Também havia mais oportunidade para se apresentar em rádios. Eu me apresentei na Rádio Cariri, na Caturité… Mesmo assim aparecem convites para tocar, especialmente nas festas juninas”, disse.
Outro destaque da sétima etapa foi a participação de Luiz Gabriel da Costa, 14, morador de Soledade (PB). Apesar da pouca idade, ele encantou a plateia por sua destreza com o instrumento. Para isso, Luiz Gabriel conta com o auxílio do padrinho, que sugere algumas musicas e acompanha o desenvolvimento do pequeno artista nelas.
Estudante do 7° ano da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Trajano Nóbrega, ele conta que pretende se aprimorar na sanfona, mas também pensa em outras profissões. “Vou continuar a tocar, quero sempre melhorar, aprender mais, mas também quero tentar outras coisas, porque já vejo como é difícil para quem escolhe ser sanfoneiro. Um dos cursos que vou buscar é o de Direito”, explicou.
Texto: Oziella Inocêncio
Fotos: Uirá Agra, Alberto Alves, Natália Gonçalves e Ed Cordeiro