As principais vítimas dos homicídios em Campina Grande no ano passado foram homens, com idades entre 22 e 49 anos, moradores da Zona Oeste da cidade e mortos por arma de fogo. Um estudo que mapeou os homicídios na cidade foi apresentado no sábado (16) no 4º Simpósio de Instituições e Gestão Pública (Singep) da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). Em 2014, a cidade registrou 154 assassinatos.
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A Ramadinha é o bairro mais violento de Campina Grande, em taxa de homicídios por habitante no ano de 2014, segundo pesquisa feita por integrantes da 10ª Delegacia Seccional Polícia Civil. Com quatro homicídios e apenas 2.463 moradores, o bairro obteve uma taxa de 162,40 Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLI) para 100 mil habitantes. “Muito além do recomendado pela Organização das Nações Unidas (ONU), que é de 10 para a mesma população”, destacam os pesquisadores Frankneyson Barbosa e Eugênio Bortoluzi.
O ranking segue com os bairros da Estação Velha, que registrou no ano passado cinco homicídios e tem 3.760 habitantes, o que representa uma taxa de 132,9; e o bairro Novo Bodocongó, com dois homicídios para 1.740 moradores, cuja taxa foi de 114,9 CVLI para cada 100 mil habitantes. Outros 14 bairros oficiais não registraram homicídios.
“Historicamente, o bairro da Ramadinha é visto como sendo de baixa renda, com precariedade de serviços públicos e acessibilidade, além de possuir alguns pontos conhecidos para a prática de tráfico de drogas, o que pode manter relação com o número de homicídios ali praticados. Por sua vez, dentre os bairros com baixo índice de homicídios […] não ficou clara a relação entre as condições sociais apresentadas e a taxa de violência, estando ela bastante heterogênea espacialmente”, assinala o estudo.
Localização geográfica
As zonas Oeste e Sul da cidade figuram como as de maior número de homicídios registrados em 2014. Na zona Oeste, foram 64 assassinatos. Na zona Sul, houve 40 mortes. Os demais crimes aconteceram nas zonas Norte (18), Leste (21) e Central (9). Segundo a Prefeitura Municipal, Campina Grande possui na atualidade, oficialmente, 49 bairros. Dentre os bairros que registraram homicídios em 2014, apenas os bairros do Jeremias, com taxa de 8,28 homicídios para cada 100 mil moradores, Acácio Figueiredo (9,47) e Alto Branco (9,95) conseguiram se manter abaixo do citado referencial da ONU.
“Apesar da não evidenciação da relação direta entre a criminalidade nos bairros e o seu perfil social, podemos observar que há uma coincidência visível quando separamos a cidade em zonas geográficas. Uma vez que as maiores áreas de exclusão estão claramente situadas nas zonas Oeste e Sul da cidade, as quais, igualmente, figuram como as de maior número de homicídios registrados
Estatísticas mensais
Durante a análise, foram estratificados os dados das mortes violentas para cada mês do ano de 2014, pelos dias da semana, pelos turnos, por bairros, por zonas, pelo sexo e idade das vítimas e pelo instrumento utilizado. No período, Campina Grande registrou 154 homicídios, o que representa uma média de 12,83 mortes por mês, ou uma morte a cada 2,37 dias.Os meses que registraram o número de mortes acima da média mensal foram janeiro (17), fevereiro (16), março (15), agosto (16), outubro (17) e novembro (14). Junho aparece como o mês com o menor registro de CVLI, com oito mortes.
“Tais números são inversamente proporcionais ao número de pessoas na cidade durante os referidos períodos, já que no início do ano a cidade é esvaziada pelo fato dos campinenses irem passar as férias no litoral do nordeste e no mês junino a cidade receber um grande número de turistas, devido ao evento O Maior São João do Mundo. Uma hipótese para a verificação destes números poderá ser o aumento do efetivo policial durante os festejos juninos”, revela a pesquisa.
O duplo homicídio de um casal que acabava de sair de uma festa de casamento, na qual eram padrinhos, foi o caso de maior repercussão na cidade. A investigação apontou como autor intelectual o sócio das vítimas, preso pela Polícia Civil menos de um mês após as mortes. Para a polícia, uma dívida de R$ 81 mil relativa à compra de um carro foi o motivo do crime. Na denúncia do Ministério Público, o sócio é apontado como o mandante e um suspeito de agiotagem seria o intemediário que contratou o pistoleiro para matar as vítimas.
Perfil das vítimas
O estudo demonstra que os alvos dos homicídios foram, em geral, homens, com idades entre 22 e 49 anos, moradores da Zona Oeste da cidade e mortos por arma de fogo. Em 2014, seis vítimas foram do sexo feminino e 148 foram do sexo masculino. As mulheres representam 3,89% do total de CVLI em Campina Grande. O estudo também diz que 33,12% das vítimas tinham menos de 22 anos de idade. Não foi registrada nenhuma morte violenta de criança. Verificou-se ainda que 59,74%% das vítimas tinham entre 22 e 49 anos e apenas 11 delas tinham idade superior a 50 anos.
Instrumentos do crime
Em relação ao instrumento utilizado para o cometimento do crime, das 154 mortes, 126 (81,82%) foram por arma de fogo. O uso de arma branca ocorreu em 15 mortes, o que representa 9,74% dos casos. Espancamento e outros instrumentos foram utilizados no cometimento de 8,44% das mortes violentas.
Domingos violentos
Em relação aos dias da semana, o domingo foi o que mais registrou vítimas, 41 mortes, seguido da sexta-feira, com 28 mortes. A terça-feira é o dia com a menor incidência de homicídios, apresentando 13 casos ao longo do ano. Os fins de semana, compreendidos de sexta-feira a domingo, representam 59,74% das mortes de 2014.
Horário dos crimes
Para efeitos de análise, os pesquisadores consideraram durante a madrugada aqueles eventos ocorridos das 0h às 05h, a manhã sendo das 5h às 12h, tarde das 12h às 18h e noite das 18h às 0h. O turno da noite registrou 40% dos homicídios, 25% foram de manhã, 23% à tarde e 12% durante a madrugada.
Investimento público
O Portal da Transparência aponta que a Secretaria de Estado da Segurança e Defesa Social do Governo da Paraíba teve orçamento de R$ 37,7 milhões no ano passado. Segundo a lei orçamentária municipal do ano de 2014, a Prefeitura de Campina Grande reservou para a área a quantia de R$ 3 milhões em despesas com a guarda municipal, única despesa direta para a segurança pública.
Paraíba Geral com G1
Foto: Reprodução