Após filme, ‘as ceguinhas de Campina Grande’ lamentam esquecimento

Ceguinhas de CGHá 11 anos, as ‘ceguinhas de Campina Grande’ tornavam-se conhecidas em todo o Brasil após o lançamento do filme ‘A pessoa é para o que nasce’, de direção de Roberto Berliner. Porém, a empolgação durou pouco tempo. Mais de uma década depois, as irmãs Poroca, Maroca e Indaiá, de 72,70 e 64 anos, respectivamente, relatam o esquecimento do público após terem rodado o país com shows e tocado com grandes personalidades da música, como o baiano Gilberto Gil, por exemplo. Hoje, elas vivem em uma casa no bairro do Catolé, em Campina Grande, na Paraíba, recebendo cuidados de uma conhecida.

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“Depois do filme, esqueceram da gente. Quando era na época do filme, chamavam para todo canto, depois esqueceram e não nos chamaram mais para canto nenhum. Eu queria que chamasse porque a gente está esquecida, ninguém chama mais.Sonhamos em voltar a tocar pelo Brasil. Para ter outra viagem, para a gente espairecer mais, mas não chamaram mais, deixaram para lá”, disseram as irmãs.

As irmãs foram descobertas pelo diretor Roberto Berliner quando pediam esmolas nas ruas do Centro de Campina Grande. A gravação do filme começou em 1997 e terminou apenas em 2004, ano do lançamento. O documentário conta a história delas e como elas passaram a ser conhecidas após o lançamento. Com o dinheiro arrecadado na época da fama, elas conseguiram comprar a casa própria no bairro de José Pinheiro, também em Campina Grande. Mas com o passar do tempo, elas passaram por alguns problemas, inclusive maus tratos por parte de uma parente.

“Ficaram maltratando, queriam me jogar de cima da cama, não almoçávamos direito, de noite a gente comia um pão seco para dormir e eles pegavam o dinheiro da gente só para gastar”, disse Maroca.

Novo lar

Por conta dos maus tratos, as irmãs decidiram procurar um novo lugar para morar. E foi com uma conhecida, que ajudava a tomar conta delas, que elas encontraram um novo lar. A cozinheira Walquiria Calisto era amiga de uma outra mulher que trabalhava na casa da filha de Maroca. Foi assim que Walquiria conheceu as três e, mesmo após a morte da mulher que cuidava delas, manteve contato com as ‘ceguinhas de Campina Grande’.

“Elas foram à minha procura na minha casa e me perguntaram se podiam morar comigo, porque não estavam mais aguentando a vida que tinham e eu conversei com meu marido, ele concordou e desde então elas estão com a gente, vai fazer um ano já”, relatou Walquiria, que completou falando o que as irmãs representam para ela.

“Tenho elas como se fossem minhas tias, como se fizessem parte da minha família, já fazem parte da minha vida. Eu não me imagino mais sem elas, acho que eu nasci para levar isso adiante”, disse emocionada.

Para Maroca, mudar de lar proporcionou uma vida melhor. “Eu pedi para morar com eles, porque eu não aguentava mais. Viviam maltratando a gente direto. Aí eles foram e pediram a guarda da gente, ainda está na mão do advogado. Vai fazer um ano que a gente mora aqui e nunca ficamos sem jantar nenhuma vez. A gente nunca pensou que ia encontrar uma pessoa assim para tomar conta da gente. A gente com a família nunca tinha prazer de nada. Vivia chorando direto, toda noite eu peço saúde para eles. ”, desabafou Maroca.

Indaiá foi mais além: “Ela não é da família, mas é como se fosse uma mãe”.

G1
Foto: Rammom Monte / G1

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