Em seu primeiro pronunciamento desde o início do apagão que começou na quinta-feira (7) na Venezuela, Nicolás Maduro atribuiu a um ataque hacker o blecaute. “Foi utilizada uma tecnologia de alto nível que só os Estados Unidos possuem”, disse. Oposição e imprensa atribuem a queda de energia ao sucateamento da rede de energia elétrica do país.
Durante manifestação pró-governo em Caracas, Maduro disse que foi informado na tarde de quinta (7) sobre uma falha geral do sistema elétrico. Segundo ele, um ataque cibernético impediu a restituição da energia elétrica.
“Às 19h do mesmo dia se encaminhava o processo de recuperação quando recebemos um ataque cibernético internacional contra o cérebro de nossa empresa de eletricidade que automaticamente derrubou todo o processo de reconexão”, disse Nicolás Maduro.
No ato, Maduro disse ainda que há infiltrados na empresa elétrica e que os envolvidos serão identificados e julgados pela Justiça nacional. “A empresa de energia deve ser liberada de sabotadores, infiltrados e conspiradores para proteger seu sistema de ataques cibernéticos do exterior”, disse.
No Twitter, o presidente venezuelano já havia responsabilizado os Estados Unidos pela “guerra elétrica” que estaria por trás do blecaute. “A guerra elétrica anunciada e dirigida pelo imperialismo estadounidense contra o nosso povo será derrotada”, afirmou em post feito no primeiro dia sem luz.
La guerra eléctrica anunciada y dirigida por el imperialismo estadounidense en contra de nuestro pueblo será derrotada. Nada ni nadie podrá vencer al pueblo de Bolívar y Chávez. ¡Máxima unidad de los patriotas!
— Nicolás Maduro (@NicolasMaduro) March 8, 2019
O apagão afeta, além de Caracas, 22 dos 23 estados do país, motivo pelo qual o presidente pediu paciência. “Espero que o processo de restabelecimento seja definitivo e estável para a maioria dos venezuelanos nas próximas horas. Peço compreensão”, disse Maduro durante o ato pró-governo.
O sábado em Caracas foi marcado por protestos de apoiadores e opositores de Nicolás Maduro. Juan Guaidó, líder da oposição e presidente autoproclamado, esteve presente no ato contra o governo.
Pacientes mortos
O apagão já provocou a morte de 15 pacientes com problemas renais por causa da paralisação de serviços de diálise, segundo a organização não-governamental Codevida. Falta energia elétrica em 95% das 139 unidades de tratamento no país.
“Entre ontem e hoje, foram reportados 15 mortos por falta de diálise. Nove mortes ocorreram em Zulia; duas, em Trujillo; e quatro no hospital Pérez Carreño, em Caracas”, afirmou à AFP o diretor da ONG, Francisco Valencia.
A situação é mais dramática nos estados do interior, que enfrentam 50 horas de apagão ininterrupto. Em Caracas, houve restabelecimento em alguns setores por algumas horas.
Na sexta-feira, “48 crianças que dependem da única unidade de diálise pediátrica do país não puderam fazer o tratamento, o que se soma à falta de remédios e insumos, que se prolonga por anos”, disse Valencia.
Oposição culpa sucateamento da rede elétrica
Durante ato contra o regime de Maduro realizado no sábado (9), Juan Guaidó disse que o apagão é decorrente de corrupção e falta de manutenção.
“Esse é um regime ineficiente que é produto da corrupção e por esse motivo nós estamos nessa situação”, disse Guaidó na manifestação.
No Twitter, Guaidó questionou a versão do governo de que o blecaute é fruto de sabotagem externa. “A única sabotagem é a do usurpador a todo o povo da Venezuela”, publicou.
Hoy declaran que el apagón, de más de 15 horas, es producto de un saboteo externo.
Saboteo es la corrupción, saboteo es que no permitieron elecciones, saboteo es que bloquearon la entrada de comida y medicinas.
El único saboteo es el del usurpador a todo el pueblo Venezuela. pic.twitter.com/A3dh0vWI7N
— Juan Guaidó (@jguaido) March 8, 2019
Um engenheiro elétrico ouvido pelo “El Nacional” nega a possibilidade de uma sabotagem ou invasão hacker ter causado o blecaute. “Demitiram profissionais para contratar partidários políticos, suspenderam planos de manutenção, fizeram compras inconvenientes e desnecessárias, além de desperdiçar recursos”, disse o engenheiro Miguel Lara ao jornal venezuelano.
“Outros aspectos importantes foram o congelamento das tarifas e, assim, a concentração do setor elétrico em uma empresa técnica e economicamente inviável”, disse Lara ao “El Nacional”.
O governo americano também negou qualquer responsabilidade pelo apagão. O representante dos Estados Unidos para a Venezuela, Elliot Abrams, disse que o país usa sanções e diplomacia para pressionar Nicolás Maduro. Abrams ainda afirmou que a situação no país é resultado da corrupção e da incompetência do regime.
FONTE: G1