A terceira fase da Operação Gabarito, deflagrada nesta terça-feira (30)pela Polícia Civil da Capital, revelou que o grupo criminoso especializado em fraudar concursos públicos também fraudavam licitações públicas. Além disso, Kamila Marcelino Crisóstomo, uma das integrantes da cúpula da quadrilha que foi presa na primeira fase da operação, mas recebeu o benefício da prisão domiciliar, estava coordenando as ações da quadrilha. Duas pessoas foram presas em flagrante – um deles, Walter Leal da Silva, 72 anos, foi solto nesta terça-feira (30), no final da tarde, após audiência de custódia.
A ação envolveu 20 policiais, para cumprir 16 mandados de busca e apreensão, nas residências de pessoas investigadas por favorecimento das fraudes em concursos públicos, nos bairros do Portal do Sol, Seixas, Miramar, Valentina, Mangabeira e Centro de João Pessoa. Em um dos alvos, os policiais apreenderam documentos relativos a fraude em licitações públicas, na prefeitura de Joaquim Gomes (AL).
“O pai da Kamila Marcelino, presa na primeira fase da operação, já foi prefeito dessa cidade e ainda exerce muita influência no município. As licitações, em nome de Kamila, foram fraudadas para favorecer a organização criminosa. Era mais uma fonte de rendimento para eles”, explicou o delegado Lucas Sá, responsável pela investigação.
Em apenas uma das compras de gêneros alimentícios, feitos pela prefeitura a Kamila, o valor pago foi de R$ 68 mil. A Delegacia de Defraudações e Falsificações de João Pessoa (DDF-JP) vai enviar os documentos apreendidos para o Ministério Público, de Joaquim Gomes (AL), para que prossiga com a investigação sobre a fraude nas licitações, o que não pode ser feito pela polícia paraibana.
Além favorecer o grupo com a licitação forjada, o prefeito de Joaquim Gomes, Adriano Ferreira Barros, nomeou Flávio Luciano Nascimento Borges, um dos presos na primeira fase da operação e apontado como um dos líderes da organização criminosa, para exercer o cargo de secretário de cultura e turismo do município. Esse era o terceiro cargo público do acusado, que já era policial militar em Alagoas e assistente administrativo em Campina Grande, para os quais tinha sido aprovado de forma fraudulenta.
Tudo por telefone
Um celular apreendido durante as buscas de ontem foi a prova que a polícia obteve de que, mesmo após a deflagração da Operação Gabarito, o grupo continuava operando o esquema de fraudes em concursos públicos. Kamila Marcelino Crisóstomo, apontada com integrante da cúpula da organização criminosa, conseguiu na Justiça o direito à prisão domiciliar, após ser presa na primeira fase da operação. Em casa, ela estava fazendo contados com outros membros da organização, articulando recebimentos de dinheiro e a agenda de concursos a serem fraudados em 2017.
Diante da descoberta, o delegado Lucas Sá disse que irá pedir à Justiça que revogue o benefício da prisão domiciliar, já que Kamila estava tirando proveito da liberdade para continuar cometendo crimes.
Esquema complexo
Com o avanço da investigação, a polícia vai descobrindo detalhes da grandeza e a complexidade das ações da organização criminosa. Um deles é o esquema de lavagem de dinheiro para tornar lícito o recurso adquirido com as vendas dos gabaritos dos concursos públicos. “Apreendemos documentos que comprovam que eles usavam a venda de imóveis como uma forma de lavagem de dinheiro. Vendiam um imóvel por R$ 100 mil e declaravam na contabilidade que tinham vendido por R$ 300 mil. Nesse caso, R$ 200 mil eram tornados lícitos”, disse o delegado Lucas Sá. Os policiais também encontraram uma planilha da quadrilha com a agenda de concursos a serem fraudados no ano de 2017. Cinco concursos estavam na mira da quadrilha, quatro deles no Poder Judiciário. A planilha também contém os valores das provas para cada nível de cargo.
Correio da Paraíba